A Dieta Cetogénica (DC) surgiu há cerca de 100 anos, como que uma evolução da prática do jejum anteriormente utilizada para o tratamento de epilepsia em crianças e adultos.
O objetivo da DC é fazer com que o organismo entre em cetose. E o que é a cetose? É um estado metabólico em que o organismo não tem acesso à glicose (principal fonte de energia para o nosso corpo) e passa a utilizar uma via alternativa – os corpos cetónicos – que se obtém através da gordura da alimentação ou por destruição das reservas da massa gorda.
A cetose pode ser atingida através de uma DC ou através do jejum. A diferença entre os dois é que na DC, há ingestão calórica e pode não haver restrição de calorias e no jejum há uma restrição severa de calorias por um período vaiável de horas.
Na DC é possível entrar em cetose pois existe uma redução drástica da ingestão de hidratos de carbono (fornecedores de glicose) e da carga glicémica da alimentação, e um aumento do consumo de gorduras (fornecedores de corpos cetónicos), que passa a ser a principal fonte de calorias da dieta. A quantidade de proteína não se altera das recomendações habituais e gira em torno de 1g/kg de peso /dia.
De uma forma geral há uma redução do teor em hidratos de carbono para 5% a 15% (em vez dos habituais 55% a 60%), e um aumento do teor de Gorduras para 45% até 70% (em vez dos habituais 20% a 30%).
Exsitem alguns tipos de DC, ou seja, dietas que induzem o estado de cetose. Algumas mais restritas como a DC clássica usada no início do século passado para o tratamento de epilepsia pediátrica refractária aos medicamentos. Esta DC é muito difícil de seguir e por essa razão tem sido muito pouco utilizada e estudada. A Low glycemic index treatment – dieta com baixo teor glicémico, menos restrita em termos de quantidade de hidratos de carbono, mas mais restrita no tipo de hidratos de carbono possíveis. A Dieta cetogénica MTC – em que a principal fonte de gordura tem que provir de ácidos gordos de cadeia média – que são o tipo de gordura mais cetogénica. Este é o tipo de DC com maior número de estudos e com grande evidência por exemplo em doentes oncológicos.
Quais os benefícios da cetose para o organismo?
– Melhoria da flexibilidade metabólica das mitocôndrias (parte da célula responsável por produção de energia) tornando-as mais eficientes.
– Redução dos marcadores inflamatórios sistémicos e em particular do Sistema Nervoso Central – alguns estudos relatam melhoria na concentração, cognição e memória. A DC tem sido estudada no tratamento da Doença de Alzheimer.
– Melhoria do perfil glicídico e diminuição dos níveis de insulina – eficaz no tratamento da resistência à insulina e na prevenção da diabetes mellitus tipo 2.
– Controlo das crises de epilepsia – Os benefícios da DC na epilepsia em crianças e adultos são talvez os mais bem documentados na literatura científica. A DC surgiu e ficou conhecida precisamente com esse objectivo
– Doenças oncológicas –Nos últimos anos, o foco tem se virado muito para a utilização da DC em doentes oncológicos principalmente neoplasias cerebrais. O próximo post vai ser só sobre este tema para que tiver mais interesse.
– Perda de Peso – Como o organismo, na falta de glicose, tem que produzir corpos cetónicos, vai haver uma destruição do tecido adiposo para que isso aconteça. Esse é o princípio por traz da eficácia da DC para a perda de peso. É o mesmo que acontece quando fazemos jejum. A “vantagem” da DC é não haver muita restrição calórica. Existe também a possibilidade de combinar o jejum intermitente com DC para resultados mais rápidos e eficazes.
– Melhora a tensão arterial e, apesar de ser muito rica em gordura, não aumenta o colesterol.
Alguns pontos importantes:
O organismo demora uns dias a adaptar-se ao metabolismo da cetose, e por isso, na falta de glicose, durante estes primeiros 5 a 7 dias, as células vão recorrer a um processo chamado de gliconeogénese, ou destruição de massa muscular para produção de glicose, e por isso pode ocorrer uma ligeira perda de massa magra. A partir do 7º dia, o organismo já se adaptou e a produção de corpos cetónicos já é suficiente para garantir o fornecimento de energia.
Nesta primeira fase de adaptação é possível sentir alguns efeitos secundários como fraqueza, dor de cabeça e apatia, que melhoram e desaparecem assim que o corpo se adaptar.
Não é recomendável fazer DC exclusiva por mais de 8 semanas, a não ser em casos específicos de algumas situações de tratamentos oncológicos e tratamento de epilepsia, e nestes casos é obrigatório o acompanhamento de um nutricionista ou médico.
Por ser uma dieta desequilibrada do ponto de vista dos micronutrientes é praticamente obrigatório a suplementação, e por essa razão é importante o acompanhamento de um nutricionista ou médico para saber qual a suplementação necessária e em que doses.
Contra-indicações:
Crianças e adolescentes
Pessoas debilitadas
Grávidas e mulheres a amamentar
Diabéticos tipo 1 ou 2 mal controlados por risco aumentado de cetoacidose.
Pessoas com baixo peso ou pouca massa muscular
Doentes com doenças cardíacas mal controladas
Pacientes sem vesícula ou com problemas renais
Nota: Se tem alguma doença ou condição de saúde crónica ou aguda, é necessário consultar o médico ou nutricionista antes de fazer uma DC.
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